Pesquisar na Internet é um erro. Decidi que não o faria, depois de ver a Lurdes tão em baixo. Lemos imenso sobre estatísticas ao fim de cinco anos e só podemos ficar depressivos. Cada caso é um caso. Eu caí no erro, quando o resultado da biópsia confirmou a neoplasia, de ir fazer umas pesquisas. Acho que entrei num estado catatónico. Foi muito mau e nunca mais o faço.
Tenho a mania – irritante, para alguns – de procurar um lado menos mau (na morte não há um lado bom para quem fica; falo dos que amam, claro). Quando dei por mim a pensar que se calhar já não vou viver pelo menos mais uns 20 ou 30 anos, só consegui pensar numa coisa boa: que iria para perto de todos aqueles que amei e que partiram antes de mim. Pessoas e animais. A minha Maria Papoila, que foi a última a passar para ‘o andar de cima’, deixou-me uma ferida aberta na alma. Tranquilizou-me imaginar um reencontro e quase que senti de verdade o afago que lhe dei em pensamento. Tenho tantas saudades dela! E os meus avós queridos, o meu amigo Vítor... tantos vizinhos... sabe bem pensar que tenho muitas novidades para contar do outro lado da ponte do arco-íris quando um dia for a minha vez de a atravessar. Mas não há-de ser já.