“Não acreditava que um dia destes chegasse. E agora, Março de 2007, veio com a brutalidade de uma explosão no peito. Não imaginava que fosse assim, tão doloroso e, ao mesmo tempo, tão pouco digno como a velhice e a decadência. Tão reles. O olhar de pena dos outros, palavras de esperança em que não têm fé.
(...)
Suceda o que suceder, uma coisa tenho por certa: isto alterou, de cabo a rabo, a minha vida. Ignoro em que sentido, ignoro como. Sei que alterou. Santa Maria. O que farei daqui para a frente, se existir daqui para a frente?
(...)
o cancro ratando ratando, injusto, teimoso, cego. Mói e mata. Mata. Mata. Mata. Mata. Levou-me tantas das pessoas que mais queria. E eu, já agora, quero-me? Sim. Não. Sim. Não – sim. Por enquanto meço o meu espanto, à medida que nas árvores da cerca uns pardais fazem ninho. A primavera mal começou e eles truca, ninho. Obrigado, Senhor, por haver futuro para alguém.”
António Lobo Antunes soube dizer, como só ele sabe, o que sentimos quando nos dizem que temos cancro. Quando de repente nos apercebemos com mais crueza de como a vida é frágil. Como é injusto que o corpo nos pregue uma partida quando a mente ainda quer viajar tanto. E o medo que se instala, a dúvida que nos faz vacilar, a ponto de já nem sabermos se queremos ir em frente, tal é o receio da decadência.
Há que suavizar a dor e o medo, seja de que forma for. Com coragem. Mas antes é preciso encarar esta dureza de frente. E chorar antes de levantar de novo a cabeça. Tenho conhecido pessoas maravilhosas que levantaram a cabeça e que são a prova de que é possível ganhar. Obrigada a todas.
Um beijo muito grande para quem trava esta batalha. Anixinha e Cláudia, a Primavera está à vossa espera!
De Ana Mafalda a 25 de Abril de 2007 às 14:55
Amiguinhas, Carla e Anixinha, estou muito contente fui fazer ontem de manhã a quimio e até este momento não tive qualquer sintoma desagradável. Mas temo que posso aparecer lá para amanhã ou depois, até lá fico a aguardar, a ver vamos. Como é que aconteceu convosco os sintomas foram imediatos? Beijinhos com muito carinho
De
carla a 25 de Abril de 2007 às 16:11
Ana querida, no dia do tratamento e no dia seguinte eu andava bem (só tinha vermelhidão). Os sintomas começavam no 3º dia e arrastavam-se pelo 4º. Ao 5º dia começava a melhorar. Os piores eram mesmo a quarta e quinta-feira (eu fazia tratamento à segunda-feira). Doíam-me os músculos e os ossos. Às vezes sentia picadas por dentro dos tornozelos, era muito incómodo, mas a coisa boa é que dois dias depois estava óptima! E as coisas foram melhorando conforme os tratamentos foram avançando.
Não sei se é o nosso corpo que vai ganhando resistência (apesar de alguns valores enfraquecerem), mas o que me custou mais foi o primeiro. Espero que passes bem. Qualquer mau-estar que tenhas, pensa que vai passar depressa, não desanimes, está bem? Um beijo enorme, enorme!
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