Quarta e quinta-feira,
26 e 27 de Julho de 2006
‘Tenho dias cinzentos, como a filha de uma manhã emboscada nas nuvens. Tenho dias de sal grosso no peito, sobre uma cicatriz de espuma e raiva. Tenho dias de tristeza absoluta em que vejo as horas que se precipitam, entalando-me numa noite que não me traz sono. Tenho momentos em que podem vir orquídeas, mimosas ou crisântemos, mas nada me agarra aos sonhos e à água. Tanta coisa para dizer que hoje estou murcha e que quero estar só, sem que o esteja’.
Começaram as dores. Chegaram devagarinho mas não foram mansas. Mesmo deitada, sossegadinha à espera que passassem, senti-as verdadeiramente na pele. Tive muitos puxões na zona pélvica, especialmente na cicatriz que ficou da operação. Quis pensar que eram células más a morrer. Temos que arranjar as nossas próprias historiazinhas para nos animarmos. O que me custou mais foi a dor nos tornozelos. Doíam-me as articulações todas, parecia que andava dentro de mim uma festa para a qual não convidei quem quer que fosse. Tenho que me habituar a estes intrusos de 3 em 3 semanas. São apenas 10 tratamentos, se tudo correr bem.